quarta-feira, 26 de janeiro de 2011



Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Fernando Pessoa

Créditos da imagem: http://antoniocarlossilva.blogspot.com/2010/12/o-varal-das-cores.html

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém....



Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora.


Ternura - Vinícius de Moraes

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011


Cuando los blancos llegaron, nosotros teníamos la tierra y ellos la Biblia. Nos enseñaron a rezar con los ojos cerrados. Cuando los abrimos, los blancos tenian la tierra y nosotros la Biblia.

Kenyata

terça-feira, 18 de janeiro de 2011


Lutam melhor os que têm belos sonhos.
                                                                     Che Guevara

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A Bruxa - Carlos Drummond de Andrade


 
Nesta cidade do Rio
De dois milhões de habitantes
Estou sozinho no quarto
Estou sozinho na América.

Estarei mesmo sozinho?
Ainda há pouco um ruído
Anunciou vida a meu lado.
Certo não é vida humana,
Mas é vida. E sinto a Bruxa
Presa na zona de luz.

De dois milhões de habitantes!
E nem precisava tanto...
Precisava de um amigo,
Desses calados, distantes,
Que lêem verso de Horácio
Mas secretamente influem
Na vida, no amor, na carne.
Estou só, não tenho amigo,
E a essa hora tardia
Como procurar amigo?

E nem precisava tanto.
Precisava de mulher
Que entrasse nesse minuto,
Recebesse esse carinho
Salvasse do aniquilamento
Um minuto e um carinho loucos
Que tenho para oferecer.

Em dois milhões de habitantes
Quantas mulheres prováveis
Interrogam-se no espelho
Medindo o tempo perdido
Até que venha a manhã
Trazer leite, jornal, calma.
Porém a essa hora vazia
Como descobrir mulher?

Esta cidade do Rio!
Tenho tanta palavra meiga,
Conheço vozes de bichos,
Sei os beijos mais violentos,
Viajei, briguei, aprendi
Estou cercado de olhos,
de mãos, afetos, procuras

Mas se tento comunicar-me,
O que há é apenas a noite
E uma espantosa solidão

Companheiros, escutai-me!
Essa presença agitada
Querendo romper a noite
Não é simplesmente a Bruxa.
É antes a confidência
Exalando-se de um homem.

Créditos da imagem: obra de
Friedensreich Hundertwasser

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Eu não me entrego ao dinheiro, só ao olhar do meu amor...



Dona Belinha e seu passarinho.
Imagem extraída do documentário Patativa do Assaré - Ave Poesia.
Trecho da música Sina, de Fagner.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011



Os escafandristas virão
explorar sua casa
seu quarto, suas coisas
sua alma, desvãos.

Sábios em vão
tentarão decifrar
o eco de antigas palavras
fragmentos de carta, poemas,
metiras, retratos
vestígios de estranha civilização.

Chico Buarque

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Poema Mestiço



Escrevo mediterrâneo
na serena voz do Índico

Sangro norte
em coração do sul

Na praia do oriente
sou areia náufraga
de nenhum mundo

Hei-de
começar mais tarde

por ora
sou a pegada
do passo por acontecer...

Mia Couto

Fotografia de Sebastião Salgado

Sendo assim, só me resta esperar que em breve o céu se feche, escureça e a chuva se derrame em minhas mãos como uma bênção. Quero provar o sabor das nuvens novamente. Desde agora já estou pronto para ser engolido por qualquer temporal que venha sem aviso. Se a vida é como uma chuva que cai intensamente e logo passa, viver é quando a gente se lança no meio da tempestade e se deixa molhar sem medo.

Reneé Venâncio

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.


O poeta pede ao seu amor que lhe escreva. Garcia Lorca
Créditos da Imagem: Banksy/ Arte de Rua

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mi alma es, frente a tu alma, como el mar frente al cielo: pasarán entre ellas, cual la sombra de un vuelo, la Tormenta y el Tiempo y la Vida y la Muerte!



Fragmento do poema Desde Lejos, de Delmira Agustini, adaptado e cantado por Rossana Taddei.

Camino del Recuerdo


Caminaré por esas calles que hace tiempo fueron mías
Y buscaré el sol clarito que alumbraba aquellos días
de mi infancia

Pequeña flor que se durmió en el recodo de un jardín
Recordaré las mediodías en la sombra de una higuera
Y aquél abuelo que cuidaba parejeros pa' las pencas
de domingo
Lejana voz que se grabó en mi vivir de cunumí

Yo volveré, más temprano que tarde volveré
A reconocerme en la mirada de mi gente
Y en la nostalgia de algún paisano trovador


Yo volveré más temprano que tarde volveré
Y aunque tanto tiempo estuve ausente
Verá mi pueblo que lo llevo en mi canción

-Martim César Gonçalves; Aluisio Rockembach
Camino Del Recuerdo faz parte do cd Santa Flor; http://www.aluisiorockembach.com/