quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Por um mundo sem machismo, preconceito e homofobia


 
Escrevo este texto estarrecida por conta de um ato de violência, motivado por homofobia, que aconteceu na nossa cidade, afetando um casal de jovens e um amigo. Ou melhor, escrevo este texto, estarrecida por conta de um ato de violência gratuito, que aconteceu em nossa cidade, afetando a todos nós, gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e heterossexuais. Quer dizer que é aceitável que, ao andar pelas ruas, pessoas sejam agredidas apenas por sua orientação sexual? Ser gay é motivo para levar porrada? Para ter o braço quebrado em três partes, na Avenida 27 de Janeiro? O que tá pegando?

No Brasil, há que se assumir que temos uma grave situação de crimes contra homossexuais. Aqui e em outras partes do mundo a homofobia mata, a impunidade arremata. O que aconteceu em Jaguarão não foi um fato isolado. Também não foi o primeiro, mas queremos que seja o último.

Não pensem que esquecemos o caso da humilhação sofrida pelo Professor Everton Fêrrêr, na Universidade Federal do Pampa, em que três alunas se recusaram a tê-lo como paraninfo na formatura, por conta de sua identidade de gênero. A humilhação sofrida no ambiente de trabalho passou praticamente impune, trazendo feridas invisíveis aos olhos, mas não menos doloridas.

Segundo dados do Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, em 2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações relacionadas à

população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em setembro ocorreu o maior número de registros, 342 denúncias. Em relação a 2011 houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas 1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo 1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.

 

A violência envolve desde agressões físicas a ameaças, humilhações, discriminações, negligências, abusos sexuais, negação de direitos, entre outras situações.

 

Cabe reiterar que as estatísticas analisadas referem-se às violações denunciadas, não correspondendo à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs, infelizmente muito mais numerosas do que aquelas que chegam ao conhecimento do poder público.

 

Por trás destes dados estão o sofrimento, a indignação e a revolta, mas principalmente a necessidade de se somar esforços para luta, que é diária e deve envolver a pressão nas ruas e também na política.

 

Está em jogo uma série de fatores: apesar de muitos avanços, o Estado comprometido ainda e engessado por valores e dogmas religiosos, a falta de Coordenadorias, Conselhos LGBT e planos de combate a homofobia nos governos estaduais e municipais, a dificuldade que ainda impera na educação para se compreender e tratar com naturalidade a nossa diversidade cultural e sexual.

 

Acontecerá uma marcha neste domingo (19), com concentração a partir das 17h, em frente ao Cine Regente, que pretende denunciar o preconceito e a homofobia na nossa cidade e dar um basta a violação dos direitos humanos que, ao assolar as chamadas minorias, afeta a sociedade de um modo geral. Devemos estar presentes, fortes e engajados para que a população LGBT tenha, de uma vez por todas, o respeito que merece. Todas e todos lá!!!

 Andréa Lima.
Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 15/01/2014.
 
Fonte da imagem: www.dci.com.br
Protesto contra o Pastor Marco Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

 

Um 2014 sem Rede Globo!

 
Já faz certo tempo que deixei de assistir a Rede Globo. Foi uma das melhores coisas que fiz ultimamente. Não sei sequer os nomes das novelas das 6 e das 7 e das peripécias deste tal de Félix só ouço falar. A Rede Globo é um dos principais mecanismos de alienação no país e é destaque quando o assunto é a ditadura da mídia comercial. Trata os expectadores como consumidores e tenta vender, a todo instante, seus produtos e ideias. Come na mão de seus anunciantes. Em nada colabora para o nosso crescimento, autonomia, organização.
O programa Zorra Total é um dos piores que já vi. Vende corpos de mulheres seminuas, piadas de mau gosto, estereótipos da comunidade LGBT e tem um grande teor racista. Lembram a personagem Adelaide, interpretada pelo ator Rodrigo Santanna? Está sendo investigada pela 19ª Promotoria de Investigação Penal, no Rio de Janeiro, após diversas denúncias de cidadãos e ONGs à Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, órgão ligado à Presidência da República, que notificou a justiça sobre os “estereótipos racistas” da personagem.
A Sessão da Tarde passa um milhão de vezes os mesmos filmes, desde que eu era criança. Programação de qualidade voltada para o público infantil, inexiste. Passar o domingo sob a companhia do Faustão deve ser a pior programação para a tarde de um brasileiro. Passar o sábado, logo o sábado, com o Luciano Hulk então, acho que é ainda pior. Um circo de má qualidade, salvo raras exceções.
O jornalismo, por sua vez, é atividade das mais tendenciosas. Além da avalanche de notícias de violência e cenas de sangue (enquanto almoçamos e jantamos), é mestre em manipular as informações, editar e distorcer os dados do país. A emissora foi inaugurada em 1965, no período da ditadura militar, apoiou este regime. Hoje em dia continua a atuar firmemente no jogo de interesses, a favor dos poderosos e no controle políticos das informações.
Sim, tem lado, e nem precisamos dizer que lado é este.
Ao menos nesta primeira semana de janeiro uma boa notícia: no ano de 2013 a emissora teve uma das piores audiências de sua história. É, o império está ruindo, o povo não é bobo.  
Nos manifestos e nas ruas em todos os cantos país uma das principais reivindicações é a da democratização da comunicação. A cassação da concessão pública de uma empresa privada que tem uma longa lista de acusações de fraudes e sonegação. Que recebe bilhões através de repasses, em detrimento das Tv´s comunitárias e da mídia alternativa, que tem desempenhado um importante papel para a circulação de notícias e para que se conheçam diferentes versões dos fatos apresentados.
Precisamos ser mais ousados, desligar a televisão em horário nobre. Neste tempo, podemos ler um livro. Contar uma história para uma criança. Aprender alguma coisa nova. Quem sabe até sair por aí... Encontrar pessoas. Conversar. Podemos fazer o que der na cabeça, qualquer coisa será melhor.
Dizer que não estamos preocupados em comprar e consumir cada vez mais. Dizer não aos 16 milhões de comerciais que circulam por ano. Estamos cansados. Queremos programação de qualidade. Queremos, através das leis, a garantia de uma comunicação plural e democrática. Para começar o ano, queridos leitores, desejo o que poderia desejar de melhor para todos vocês: muita saúde e um 2014 sem Rede Globo!
 
Andréa Lima
Publicado orginalmente no Jornal Fronteira Meridional em 08/01/2014.
Fonte da imagem: natransversaldotempo.wordpress.com