Escrevo este texto
estarrecida por conta de um ato de violência, motivado por homofobia, que
aconteceu na nossa cidade, afetando um casal de jovens e um amigo. Ou melhor,
escrevo este texto, estarrecida por conta de um ato de violência gratuito, que
aconteceu em nossa cidade, afetando a todos nós, gays, lésbicas, bissexuais,
transexuais e heterossexuais. Quer dizer que é aceitável que, ao andar pelas
ruas, pessoas sejam agredidas apenas por sua orientação sexual? Ser gay é
motivo para levar porrada? Para ter o braço quebrado em três partes, na Avenida
27 de Janeiro? O que tá pegando?
No Brasil, há que se
assumir que temos uma grave situação de crimes contra homossexuais. Aqui e em
outras partes do mundo a homofobia mata, a impunidade arremata. O que aconteceu
em Jaguarão não foi um fato isolado. Também não foi o primeiro, mas queremos
que seja o último.
Não pensem que
esquecemos o caso da humilhação sofrida pelo Professor Everton Fêrrêr, na Universidade
Federal do Pampa, em que três alunas se recusaram a tê-lo como paraninfo na
formatura, por conta de sua identidade de gênero. A humilhação sofrida no
ambiente de trabalho passou praticamente impune, trazendo feridas invisíveis
aos olhos, mas não menos doloridas.
Segundo dados do Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil, em
2012, foram registradas pelo poder público 3.084 denúncias de 9.982 violações
relacionadas à
população LGBT, envolvendo 4.851 vítimas e 4.784 suspeitos. Em
setembro ocorreu o maior número de registros, 342 denúncias. Em relação a 2011
houve um aumento de 166,09% de denúncias e 46,6% de violações, quando foram notificadas
1.159 denúncias de 6.809 violações de direitos humanos contra LGBTs, envolvendo
1.713 vítimas e 2.275 suspeitos.
A
violência envolve desde agressões físicas a ameaças, humilhações,
discriminações, negligências, abusos sexuais, negação de direitos, entre outras
situações.
Cabe reiterar que as estatísticas analisadas referem-se às violações denunciadas, não correspondendo
à totalidade das violências ocorridas cotidianamente contra LGBTs, infelizmente
muito mais numerosas do que aquelas que chegam ao conhecimento do poder
público.
Por trás destes dados estão o sofrimento, a indignação e a revolta,
mas principalmente a necessidade de se somar esforços para luta, que é diária e
deve envolver a pressão nas ruas e também na política.
Está em jogo uma série de fatores: apesar de muitos avanços, o Estado
comprometido ainda e engessado por valores e dogmas religiosos, a falta de Coordenadorias,
Conselhos LGBT e planos de combate a homofobia nos governos estaduais e
municipais, a dificuldade que ainda impera na educação para se compreender e
tratar com naturalidade a nossa diversidade cultural e sexual.
Acontecerá
uma marcha neste domingo (19), com concentração a partir das 17h, em frente ao
Cine Regente, que pretende denunciar o preconceito e a homofobia na nossa
cidade e dar um basta a violação dos direitos humanos que, ao assolar as
chamadas minorias, afeta a sociedade de um modo geral. Devemos estar presentes,
fortes e engajados para que a população LGBT tenha, de uma vez por todas, o respeito
que merece. Todas e todos lá!!!