domingo, 17 de outubro de 2010
Pequena História do Beco e da Avenida
Como poderíamos dar certo?
Tu és avenida.
Eu, o beco
Tu tens os olhos de neón
Os meus são meras lamparinas.
Teus cabelos de fios alinhados,
Os meus, um emaranhado,
uma gambiarra.
Tua pele lisa e linda,
Negro asfalto que brilha.
Eu, de pele manchada e esburacada.
Tu de nome pomposo:
Angélica, Paulista, Consolação...
Eu, beco da Traição, da Mãe Chica e o Escambau.
Recebes presidentes, ilustres e patrões
Eu, bichas, putas e ladrões.
Tu tens shoppings de quarteirão
Já eu, bodegas de montão
Tu exibes a beleza que fascina
Eu, a pobreza que incrimina.
Ocultas tua verdadeira face
Vil, mesquinha e hipócrita
Tudo que eu condeno.
Faço da pobreza meu sangue
Da feia face, minha bela bandeira
E dos miseráveis, meu exército.
Enquanto tu és previsível
Eu tenho em minhas vielas e esquinas
a surpresa.
O beijo inesperado
De um travesti com um socialite
Na ladeira, um encontro de um cafetão
Com uma de suas damas que vem nos abusar
Temos ainda à beira de um casebre
A luz de um amor sincero
E no respladecer do dia a beleza de duas fantasias
Jogadas sobre a janela de um barraco qualquer
Quem diria, não são fantasias
São Pierrot e Colombina.
* Mais uma do Valter Di Lascio. Bis Coito Com Champagne.
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