domingo, 17 de outubro de 2010

O Mundo é Cinza

Conheci o poeta Valter Di Lascio na capital do Ceará, Fortaleza, em 2002. Com a roupa suja e a barba larga, oferecia seus poemas em uma galeria no centro da cidade, ao preço de 3 reais o livreto.
Antes de encontrá-lo, havia lido uma poesia sua em um Zine que circulava no meio acadêmico da UFC. Chamava-se O Mundo é Cinza, e logo abaixo dizia Poema de Valter Di Lascio, contatos ao acaso.
Eis que, ao acaso, Valter estava à minha frente.
Comprei o impresso chamado Bis Coito com Champagne, que tinha, já, várias edições. Nele, encontrei algumas pérolas. Valter vivia na rua e trocava suas palavras pelo dinheiro da cachaça, dos cigarros, das dores e prazeres mundanos. Convivemos muito no ano em que andei pela Terra do Sol, pois ele circulava em vários cenários, desde recantos suburbanos da capital à Festivais de Teatro, Bienal do Livro, Centro Cultural Dragão do Mar. Tenho notícias de que até hoje está por lá.
Chovia quando nos conhecemos, e as palavras que escreveu como dedicatória no verso de sua lembrança, que trago com carinho, foram as seguintes: Sejamos persistentes como o sol que neste momento nos brinda com o seu calor, e enxuga as nossas vestes marcadas pela D. Chuva. 
Um brado pela poesia de calçada. Transcrevo, à seguir, alguns de seus versos.

A LUA EM PRETO E BRANCO

Minha poesia é em preto e branco.
Suja e mal cheirosa,
Capaz de fazer corar
O mais vil dos mortais.
Dizer que o vinho
Quanto mais velho, é melhor,
É perigoso
Cuidado!
Pode estar azedo
Toda verdade se encerra
Nela mesma, e,
Diante da
Lua cheia
Toda farsa torna-se
Verdade.

SONONHOS

Tu controlas teu
                    semelhante
Tu controlas teus
                    impulsos imorais
Tu controlas teu
                    par
Podes até controlar
                    o país ou o mundo
Mas não teu sono
                    ou teus sonhos

O PRESENTE DA SAUDADE

Tenho saudade das bruxas
                                       não das fogueiras
Tenho saudade dos guerreiros intrépidos
                                       não das guerras
Tenho saudade das putas e dos cabarés
                                       não da gonorréia
Tenho saudade dos sorrisos e das alegrias
                                       não dos motivos
Tenho saudade da companheira
                                       não da namorada
Tenho saudade das orgias
                                       não das ressacas
Tenho saudade das noites e dos dias
                                      não dos meses
Tenho saudade da poesia
                                     não do escrever
Tenho saudade da vida
                                     não da morte
Tenho saudade do último suspiro
                                     aquele que dei agora!

UMA PESQUISA GALOPANTE NOS HI-TECHS DA ARQUEOLOGIA
                                                                                         Valter Di Lascio/Felipe Neto.
O planeta em cheque.
O home no Calvário.
O amor no divã.
A violência em todos nós.
A criatividade na superstição.
O sexo nas estrelas.
Elas no coração.
Nós nos pensamentos.
O pensamento no cheque ao portador.
Ele no Divã.
O amor no Calvário.
A violência na criatividade.
A superstição no sexo.
Nós no coração.
E ao portador, o planeta.






2 comentários:

  1. Imagem extraída do Blog: http://www.overmundo.com.br/overblog/sobre-o-cimento-frio, onde tem uma bela entrevista realizada com o Valter. Vale a pena conferir.

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  2. Adorei saber mais sobre o poeta. Que lindo de sua parte dividir experiencias conosco. Obrigada.

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