quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Contra o poder da opressão



Marcha de Zumbi dos Palmares em Jaguarão
20/11/2013.
Foto: Roberto Luzardo
 

Não poderia deixar de registrar as minhas impressões sobre a Semana da Consciência Negra, que chegou a sua 5ª edição, e movimentou nossa cidade entre os dias 18 e 24 de novembro, proporcionando encontros entre muitas pessoas, grupos e ativistas de todas as partes, que botaram o bloco na rua e unificaram as pautas por ações de reparação, valorização da história e da memória e garantia dos direitos sociais da população negra. Talvez muita gente tenha se surpreendido com a Marcha Zumbi dos Palmares, que acontece já há bastante tempo no 20 de Novembro em várias partes do país, mas que pela primeira vez cruzou a Avenida 27 de Janeiro tendo como destino o Clube 24 de Agosto, agora já com a cara de Ponto de Cultura.

Guiados pelo som dos Berimbaus e a musicalidade da Capoeira, a comunidade do Clube 24, jovens estudantes, ialorixás, babalorixás, professores e professoras, quilombolas da Comunidade Madeira, artistas, ativistas e pessoas da comunidade em geral levantaram suas bandeiras exigindo respeito e o fim da discriminação e da exclusão social, algumas das mazelas geradas por mais de três séculos de escravidão.

A mobilização nas ruas mostra que aqui estamos alinhados aos movimentos nacionais e que a juventude e os trabalhadores não aceitam passivamente dados alarmantes como os que se referem aos altos índices de assassinatos de jovens negros, ao perfil da população carcerária no país e a desigualdade que impera nas condições de trabalho e acesso ao ensino superior entre negros e não negros. No que tange em especial às questões de gênero, dados do Ministério do Trabalho revelam, por exemplo, que a mulher negra ganha, em média, R$ 790 e o salário do homem branco chega a R$ 1.671,00 - mais que o dobro. No número de empregos, a discriminação também é estampada pelos números. São 498.521 empregos formais de mulheres negras contra 7,6 milhões de mulheres brancas e 11,9 milhões de homens brancos. Penso que estes e outros índices, apontados pelo documento coletivo de chamada para a Marcha em Jaguarão, revelam por si só o quanto é importante manter a mobilização cotidianamente e buscar a inserção em todos os espaços, na luta política e na legislação.

Nos outros dias do evento, que não teve o propósito de delimitar, mas sim de potencializar as atividades em prol da consciência negra, acompanhamos as discussões sobre a Lei 10.639, que pauta a inserção da história e da cultura afro na realidade escolar, encontros de mulheres, grupos de discussão sobre clubes sociais negros, agroecologia e saúde, oficina de vídeo como registro da memória, entre outras atividades. No final de semana vimos a Praça Alcides Marques se pintar de gente, com a participação do Coletivo Negada de Pelotas, Grupo de Dança Afro Monjolo, Associação de Capoeira Zumbi dos Palmares, oficinão de danças urbanas, teatro e diversas atrações culturais. Como já foi dito em outros momentos, o evento chegou ao fim, mas as lutas se renovam e continuam. Em algum dos cartazes da marcha li o trecho de uma música de autoria do compositor Paulo Romeu que diz “Contra o poder da Opressão, Zumbi também sou eu...” Sim, Zumbi somos todos nós, construindo esta nação.
 
 
Andréa Lima.
Publicado originalmente no Jornal Fronteira Meridional em 27/11/2013

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