quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Mandela e a luta de um povo

 

 
Madiba nos deixou. Na última quinta-feira, 05 de dezembro, do alto de seus 95 anos.
Estava em casa, com seus familiares, desde princípios de setembro, depois de longos três meses de hospitalização, em que lutou contra complicações pulmonares.

Mais do que belas palavras, fica o exemplo de sua trajetória. Toda uma vida de militância por uma sociedade justa, livre e alicerçada nos direitos humanos, no enfrentamento ao racismo e a discriminação. Não, não era o líder pacifista que a mídia conservadora e a direita ocidental ajudaram a construir e se obrigaram a aceitar. Era rebelde, não se curvava e estava disposto a morrer pelas causas que defendia.
Aos sete anos de idade começou a estudar, foi o primeiro membro de sua família a ingressar na escola. No decorrer do ensino superior, ao cursar Direito, se envolveu com o movimento estudantil.  Já na juventude liderou a oposição ao regime de segregação conhecido como Apartheide, que durante décadas imperou na África do Sul e negou aos negros, mestiços e asiáticos direitos sociais, políticos e econômicos. Eram governados e submetidos aos valores de uma minoria branca.

Por suas bandeiras e pela dignidade de seu povo, uniu-se ao Congresso Nacional Africano (CNA), onde fundou uma liga jovem, e intensificou as ações junto aos companheiros militantes que, como ele, não fugiram a luta. Assim como Che Guevara endureceu. Entrou para a luta armada, mas não perdeu a ternura jamais.
Na década de 1960, opor-se ao regime predominante poderia significar a morte. A polícia sul-africana, no conhecido massacre de Shaperville, matara 69 jovens negros e ferira quase 200. Mandela não se calou. Ao contrário, fortaleceu o movimento.

Em 1962, denunciado pela CIA, foi sentenciado a cinco anos de prisão por viajar ilegalmente ao exterior e incentivar greves.
Em 1964 foi condenado a prisão perpétua por sabotagem ao governo e ações da luta armada.

Ficou preso por 27 anos e passou a simbolizar, internacionalmente, as lutas antiapartheid.
Quando libertado em 1990, por conta de uma grande pressão social, um mar de pessoas o aguardava nas ruas. Estava com 72 anos. Chegou a presidência da África do Sul em 1994 e comandou a transição do regime racista, buscando a igualdade e a unificação do país. Mas não, não foi só isso. Sua luta foi complexa, de classes, contra os domínios do Imperialismo. Cabe lembrar que até o ano de 2008 seu nome constou na lista norte-americana de terroristas.

Enquanto escrevo estas linhas como uma singela homenagem, milhares de sul-africanos cantam e dançam sob a chuva em Johanesburgo. Empunham bandeiras da África do Sul, vestem camisas com seu rosto, com as cores e o anagrama do Congresso Nacional Africano (CNA) e até uniformes militares da Umkhonto we Sizwe, o braço armado da organização fundada por Mandela.

Que a despedida deste grande líder renove nossas esperanças por um mundo melhor e incentive as lutas de todos os povos em busca de dignidade e justiça social. Que sirva para uma reflexão profunda sobre a atual configuração política de nossa sociedade.

“A pobreza massiva e a desigualdade obscena são terríveis chagas de nossos tempos – tempos os quais o mundo galga impressionantes avanços na ciência, tecnologia, indústria e acumulação de riqueza – porém ainda assim temos de conviver com a escravidão e o apartheid. Dar fim a pobreza não é um gesto de caridade. É um ato de justiça. É a proteção de um direito humano fundamental, o direito a dignidade e a uma vida decente. Enquanto a pobreza existir não há liberdade genuína.”

Salve Nelson Mandela!
 
Andréa Lima
Publicado no Jornal Fronteira Meridional em 11/12/2013

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