quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Documento de chamada para a Marcha de Zumbi dos Palmares em Jaguarão



Patrícia Crespo lendo o documento coletivo de chamada para a Marcha de Zumbi dos Palmares em Jaguarão.
Sessão ordinária da Câmara de Vereadores.
19/11/2013
 
 
O dia 20 de novembro faz menção à morte do líder Zumbi dos Palmares, que lutou durante toda sua vida pela liberdade do povo negro. Trata-se de uma data construída pelos movimentos sociais desde a década de 1970 como forma de dar visibilidade às pautas da comunidade negra na luta contra o preconceito, o racismo e a discriminação. Também marca a tomada de consciência deste povo sobre o seu valor e o reconhecimento de que os avanços e conquistas realizadas são fruto de seu próprio trabalho, protagonismo e mobilização.

Em novembro intensificam-se as ações e debates políticos em todo o território nacional, onde as ruas são tomadas pela reivindicação dos direitos sociais, luta por cidadania e ações de reparação para a população negra, submetida neste país há mais de três séculos de escravidão.

Este processo histórico gerou uma série de mazelas enfrentadas cotidianamente, que precisam ser superadas. Não é à toa que atualmente a população carcerária do país é principalmente formada por jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa escolaridade, sendo que este perfil representa um percentual de 73,83% dos detentos. As mulheres negras, por sua vez, são o principal alvo da violência doméstica, sexual e racial, agravada pela exclusão econômica.

A discriminação com a mulher negra no mercado de trabalho é visível quando se analisam dados como o salário e o número de vagas ocupadas por elas.
O salário médio da mulher negra com emprego formal é menos da metade do que o salário de um homem branco. De acordo com dados do Ministério do Trabalho, a mulher negra ganha, em média, R$ 790 e o salário do homem branco chega a R$ 1.671,00 - mais que o dobro.
No número de empregos, a discriminação também é estampada pelos números. São 498.521 empregos formais de mulheres negras contra 7,6 milhões de mulheres brancas e 11,9 milhões de homens brancos. Nos últimos meses os movimentos negros e sociais também tem chamado a atenção da mídia e das autoridades para a necessidade de desmilitarização da polícia, que no suposto combate ao crime organizado, tem matado jovens inocentes da sociedade civil, ocasionando um verdadeiro genocídio da juventude negra. Em 2010 mais de 70% dos homicídios registrados no país foram de negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.  No Brasil a cada três assassinatos dois vitimam negros. E segundo pesquisa do IPEA em grupos com escolaridade e características socioeconomias semelhantes, a chance de um adolescente negro ser assassinado é 3,7 vezes maior em comparação aos brancos. Em 2010 mais de 70% dos homicídios registrados no país foram de negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos. No Rio Grande do Sul, nos últimos dez anos o numero de assassinatos de negros aumentou cerca de 35% enquanto o homicídio de brancos aumentou 3%.

Outra pauta do movimento negro é com relação inserção a da população negra nas universidades, onde mesmo com a implementação da Lei de Ações Afirmativas, a população negra ainda continua ter menos acesso as universidades publicas em comparação aos brancos. Para se ter uma noção disso, em 2010 somente 16.418 estudantes concluintes do ensino superior que prestaram o Enad se declararam negros de um total de 267.823 universitários.

Em Jaguarão, nos alinhamos aos movimentos nacionais e chamamos a toda a comunidade, negros e não-negros, para a Marcha Zumbi dos Palmares, que acontecerá pela primeira vez no Dia Nacional da Consciência Negra, com a concentração à partir das 18h, no antigo Cine Regente, e deslocamento até o Clube Social 24 de Agosto, onde acontecerá a abertura da 5ª Semana da Consciência Negra. Estamos e nos manteremos mobilizados no município por políticas públicas para a saúde da população negra, pelo fim da violência contra a mulher e equidade nas condições de trabalho entre negros e não negros, pela aplicação e aprofundamento das discussões relativas à lei 10.639 nas escolas do município, por melhores condições de acesso, saúde e habitação para a comunidade Quilombola Madeira, regularização e garantia dos territórios negros, fomento às expressões religiosas de matriz afro na cidade, por mais investimentos na valorização da memória, história e cultura negra e pelo comprometimento com os projetos sociais nos bairros e periferias.

O povo negro exige respeito e participação política nos espaços decisórios, firme na luta por seus direitos sociais!

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