Entre os dias 25 e 30 de novembro, nossa praça central esteve mais
bonita e colorida, com livreiros, biblioteca itinerante, arte, artesanato, contação
de histórias, poesia e música ao entardecer, por ocasião da Feira Alternativa
de Literatura e Arte (FALA), um evento construído de forma colaborativa e que
mobilizou muita gente na nossa querida e fértil fronteira. Tudo começou com o
anúncio de que, pelo segundo ano consecutivo, não haveria a Feira Binacional do
Livro, pois, como todos sabem, estamos sob vigência de um decreto de
contingenciamento orçamentário da Prefeitura, dependendo do aporte de recursos
via governo federal ou de patrocínio para um evento de tal envergadura, que
envolve cachês artísticos, estrutura, luz e sonorização, só para o início de
conversa.
Pensando que talvez o mais importante de uma Feira do Livro seja o
incentivo ao hábito de ler, contar e ouvir histórias e interpretar o mundo, um
grupo de pessoas de diversas áreas se reuniu e idealizou uma feira alternativa,
não dependente do capital, mas sim da criatividade e do empenho das pessoas. Afinal,
temos aqui uma Universidade, escritores, artistas, ativistas e muita gente
produzindo, atuando e com boas ideias. Ninguém melhor do que o Professor Maninho,
agora presidente e agitador da SIC – Sociedade Independente Cultural, para
abraçar a causa e contagiar a todos com sua energia e espírito revolucionário. Ele
se mexeu de todas as formas, fez reuniões aqui e acolá e juntou uma verdadeira
caravana de gente afim de trabalhar e com habilidade pra dizer mais sim do que
não.
Com pouco ou quase nada de recursos financeiros, realizamos cinco dias
de evento, que começou com uma gincana cultural organizada pela Secretaria de
Educação e Desporto e se estendeu com atividades na Biblioteca Pública e sob a
sombra das árvores da Alcides Marques. Levar exposições de telas, livros,
música e poesia para a rua é uma forma de buscar a interação com as pessoas que
passam, indo e voltando do trabalho. Instalar uma biblioteca no miolo de uma
área central atrai a atenção das crianças, que podem descobrir no hábito de ler
uma atividade satisfatória, tornando-se sujeitos mais críticos e atentos na
interpretação de sua realidade social.
As atividades na Biblioteca Pública, por sua vez, foram muitas e
diversas. Em um ambiente rodeado por livros aconteceu um Sarau Literário,
colóquios, atividades dos cursos de Letras, Pedagogia e Produção e Política
Cultural, palestras e uma belíssima fala do escritor Aldyr Garcia Schlee, uma
das principais referências quando o assunto são os causos, histórias e o
imaginário da fronteira do país com o Uruguai.
O escritor, além de falar um pouco sobre seu universo literário e sua
rotina de trabalho, abordou temas do seu último livro “Contos da Vida Difícil”,
que traz à tona a questão do intenso tráfico de mulheres na Jaguarão da década
de 20 e as memórias dos prostíbulos e cabarés, que nossa cidade fez questão de
ocultar, esquecer. Vale a pena ler!
No mais, tenho que ressaltar o quanto tem gente empenhada pela
valorização da cultura não só como a cereja do bolo, mas como um direito social
básico dos cidadãos. Estamos todos na luta para que as bibliotecas, um dia,
sejam mais frequentadas e valorizadas do que os bancos.
Texto publicado originalmente no Jornal Fronteira Meridional em 04/12/2013.
Da ideia para a ação, quando isto se converte as coisas acontecem. Parabéns Andrea pelo texto, por ter largado a ideia o que provocou a ação de todos, e gracias pela referência. bjs
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