quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Uma cidade mais colorida

 
Entre os dias 25 e 30 de novembro, nossa praça central esteve mais bonita e colorida, com livreiros, biblioteca itinerante, arte, artesanato, contação de histórias, poesia e música ao entardecer, por ocasião da Feira Alternativa de Literatura e Arte (FALA), um evento construído de forma colaborativa e que mobilizou muita gente na nossa querida e fértil fronteira. Tudo começou com o anúncio de que, pelo segundo ano consecutivo, não haveria a Feira Binacional do Livro, pois, como todos sabem, estamos sob vigência de um decreto de contingenciamento orçamentário da Prefeitura, dependendo do aporte de recursos via governo federal ou de patrocínio para um evento de tal envergadura, que envolve cachês artísticos, estrutura, luz e sonorização, só para o início de conversa.
Pensando que talvez o mais importante de uma Feira do Livro seja o incentivo ao hábito de ler, contar e ouvir histórias e interpretar o mundo, um grupo de pessoas de diversas áreas se reuniu e idealizou uma feira alternativa, não dependente do capital, mas sim da criatividade e do empenho das pessoas. Afinal, temos aqui uma Universidade, escritores, artistas, ativistas e muita gente produzindo, atuando e com boas ideias. Ninguém melhor do que o Professor Maninho, agora presidente e agitador da SIC – Sociedade Independente Cultural, para abraçar a causa e contagiar a todos com sua energia e espírito revolucionário. Ele se mexeu de todas as formas, fez reuniões aqui e acolá e juntou uma verdadeira caravana de gente afim de trabalhar e com habilidade pra dizer mais sim do que não.
Com pouco ou quase nada de recursos financeiros, realizamos cinco dias de evento, que começou com uma gincana cultural organizada pela Secretaria de Educação e Desporto e se estendeu com atividades na Biblioteca Pública e sob a sombra das árvores da Alcides Marques. Levar exposições de telas, livros, música e poesia para a rua é uma forma de buscar a interação com as pessoas que passam, indo e voltando do trabalho. Instalar uma biblioteca no miolo de uma área central atrai a atenção das crianças, que podem descobrir no hábito de ler uma atividade satisfatória, tornando-se sujeitos mais críticos e atentos na interpretação de sua realidade social.
As atividades na Biblioteca Pública, por sua vez, foram muitas e diversas. Em um ambiente rodeado por livros aconteceu um Sarau Literário, colóquios, atividades dos cursos de Letras, Pedagogia e Produção e Política Cultural, palestras e uma belíssima fala do escritor Aldyr Garcia Schlee, uma das principais referências quando o assunto são os causos, histórias e o imaginário da fronteira do país com o Uruguai.
O escritor, além de falar um pouco sobre seu universo literário e sua rotina de trabalho, abordou temas do seu último livro “Contos da Vida Difícil”, que traz à tona a questão do intenso tráfico de mulheres na Jaguarão da década de 20 e as memórias dos prostíbulos e cabarés, que nossa cidade fez questão de ocultar, esquecer. Vale a pena ler!
No mais, tenho que ressaltar o quanto tem gente empenhada pela valorização da cultura não só como a cereja do bolo, mas como um direito social básico dos cidadãos. Estamos todos na luta para que as bibliotecas, um dia, sejam mais frequentadas e valorizadas do que os bancos.
 Andréa Lima.
Texto publicado originalmente no Jornal Fronteira Meridional em 04/12/2013.

Um comentário:

  1. Da ideia para a ação, quando isto se converte as coisas acontecem. Parabéns Andrea pelo texto, por ter largado a ideia o que provocou a ação de todos, e gracias pela referência. bjs

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